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Capítulo 1: O Problema com o Livre-Arbítrio

Uma das questões mais difíceis e persistentes da história é como um Deus amoroso poderia permitir que o mal ocorresse na terra. Normalmente, os homens explicam o mal como uma criação de Satanás para removerem toda a responsabilidade dos ombros de Deus. No entanto, o problema com essa visão é que ela reduz o problema, mas não o resolve totalmente. Os problemas remanescentes deixados por essa explicação precisam ser ignorados para que a teoria se torne viável.

Por exemplo, se Satanás é o criador do mal, quem o criou? Deus não o criou? Deus criou um anjo defeituoso? Satanás era um anjo perfeito com um livre-arbítrio que o fez pecar? Será que todos os anjos têm livre-arbítrio? Deus é pego de surpresa quando um anjo cai? Um criador não é responsável por aquilo que cria?

A explicação frequente para o problema da responsabilidade da criação é o "livre-arbítrio". Se Satanás tem um livre-arbítrio, então nos dizem ele é totalmente responsável por tudo que faz, deixando Deus inocente de qualquer mal que aconteça no mundo.

Esse princípio estende-se também ao homem. Se o homem pratica o mal, então é por seu total livre-arbítrio, deixando Deus inocente de tudo o que os homens fazem.

Essas explicações ocorrem às custas da soberania de Deus, é claro. Deus é incapaz de criar qualquer ser vivo sem lhe dar um livre-arbítrio? Deus é realmente um Espectador inocente na história? Será que Deus é na verdade um Super-Homem indefeso no céu que possui todo o PODER para deter o mal, mas é cavalheiro demais para fazer alguma coisa a respeito?

E há outros problemas: (1) Quando Deus criou os seres com livre-arbítrio, Ele não sabia que iriam começar a praticar o mal? (2) Um Criador não é responsável por aquilo que Ele cria? (3) Por que um Deus bom e onisciente criaria seres espirituais e físicos com a capacidade de fazer o mal?

Dizem amiúde que tais coisas eram necessárias para evitar a criação de um monte de robôs. Bom, em primeiro lugar, a necessidade não elimina a responsabilidade. Voltamos a nossa pergunta original, só que em vez de perguntarmos como um Deus bom poderia criar o mal (ou seres maus com livre-arbítrio), agora temos de perguntar o que aparentemente compeliu a Deus a criá-los assim. E, como é que tal raciocínio elimina a responsabilidade de Deus?

Nos disseram que essa era a única forma de Deus conseguir um produto de qualidade no fim dos tempos, e que Deus sabia por antecipação que apenas uma pequena percentagem dos homens (da humanidade) "passaria no teste" e se tornaria os filhos de Deus. Mas, ficamos com a impressão de que Deus não gostou desse resultado, e que Ele se entristece por isso. No entanto, esse Deus Todo-Sábio não teria encontrado outra forma de alcançar o Seu propósito de gerar filhos.

O fato é que a soberania e sabedoria de Deus são grandemente corroídas por essa explicação. A visão primeiro postula seres espirituais que fazem as coisas de acordo com a sua própria vontade, independentemente de Deus, e depois postula bilhões de seres humanos, cada um tendo a sua própria vontade e domínio independentes de Deus. Quando tomamos em conta tudo isso, descobrimos que Deus foi amplamente acotovelado para fora do Seu próprio universo.

Para piorar, todos esses deuses independentes, tanto em espírito como no mundo, não têm problema nenhum em utilizar a força e a coerção para impor suas vontades aos outros na terra. E, ainda assim, as regras de alguma forma proíbem Deus de fazer o mesmo. Quem inventa essas regras unilaterais?

Além disso, a própria sabedoria e capacidade de Deus é colocada em questão: Ele não era sábio o suficiente para elaborar um plano que salvasse a todos? Era incapaz? Será que o livre-arbítrio do homem excederá a vontade de Deus? O homem é o mestre de seu próprio destino, tirando, obviamente, toda a coerção proveniente de outros homens ou das coisas que o diabo os obrigou a fazer?

Se os homens estão sendo coagidos ou forçados por outros homens ou espíritos, então, na realidade, eles são livres somente até o seu grau de autoridade. À medida que se elevam em autoridade, conseguem forçar e coagir outros que têm menos livre-arbítrio. No entanto, apenas a autoridade superior – talvez o rei? – parece se aproximar mais do total livre-arbítrio. Todos os demais estão sendo forçados a serem obedientes, mesmo contra a sua vontade.

Mais uma vez, voltamos ao ponto de partida, ao conceito original de que Deus (o Rei Supremo) é o Único com total livre-arbítrio. Claro que, se acreditamos que Deus e Satanás são dois deuses independentes de igual poder, então teríamos que concluir que tanto Deus como Satanás têm total livre-arbítrio em seus respectivos domínios, enquanto a vontade do homem é limitada pela força e coerção do diabo.

A essa mistura, temos que acrescentar um fator adicional. Será que alguém teve o poder de escolher seus próprios pais? Ou a religião em que nasceu? A sua classe social ou sua condição econômica? Todos esses são fatores poderosos para determinar se esse indivíduo será ou não cristão, muçulmano, hindu ou judeu. Quanto livre-arbítrio alguém realmente tem para conhecer Jesus Cristo como você O conhece? Quanto livre-arbítrio teve alguém que nasceu no coração do Congo há mil anos atrás para aceitar Jesus Cristo?

Em primeiro lugar, podemos realmente dizer que o homem tem livre-arbítrio quando todos sabemos que muitas das escolhas mais importantes na vida nunca foram suas? Não será essa uma limitação no conceito de livre-arbítrio?

Há outra visão teológica que afirma que Deus é totalmente soberano. João Calvino era bastante famoso por tal ponto de vista. Ele expôs a opinião de que Deus escolheu soberanamente alguns para serem salvos e a maioria para serem queimados no inferno. Ele não pensava que isso se devia ao acaso e nem ao livre-arbítrio do homem. Deus, em Sua presciência, predestinou a todos para serem salvos ou queimados no final, alegava ele.

É óbvio que essa visão austera prejudica tremendamente a nossa ideia do Amor de Deus. Mas, na época de Calvino, a vida era difícil, e é improvável que ele tenha realmente compreendido o conceito de Amor. Calvino não conseguia conciliar um Deus Soberano com um Deus de Amor, e por isso escolheu definir a Deus por Seu Poder em vez de Seu Amor.

Os problemas com esse ponto de vista são bastante claros para a maioria das pessoas. Quem quer acreditar num Deus tirânico que é suficientemente poderoso para salvar todas as pessoas, mas que deliberadamente escolheu não salvar? E, repito, há uma série de problemas restantes com o Deus de Calvino que continuam sem resposta.

Na minha opinião, a única forma de reconciliar um Deus Soberano com um Deus de Perfeito Amor é torná-lo tão poderoso a ponto de salvar todas as pessoas da terra. Para isso, contudo, é preciso também torná-Lo totalmente Justo. Mas, como um Deus justo pode salvar a todos, tendo em conta o fato de que há tanto mal no mundo? Não existe algum jeito de um Deus todo-sábio fazer isso?

Eu creio que existe uma forma de salvar toda a humanidade preservando ao mesmo tempo a soberania, o amor, a misericórdia e a justiça de Deus, bem como todas as outras partes do caráter de Deus. Se pudesse ser demonstrado que Ele é suficientemente poderoso para salvar a todos, amoroso o suficiente para salvar a todos, e sábio o suficiente para superar o problema do mal no mundo sem violar o Seu próprio caráter justo, não seria esse então o Deus ideal para seguirmos? Não iriam admirá-Lo fazendo com que todos quisessem segui-Lo, não por compulsão, mas por amor?

Esse é o tipo de Deus que eu sigo. Esse é o segredo para conhecer realmente a Deus por quem Ele é. Aqueles que O procuram verdadeiramente irão encontrá-Lo. Entretanto, eu descobri que a maioria das pessoas não sabe que tal Deus realmente existe. Esse Deus é "bom demais para ser verdade".

Muitos foram tão maltratadas que não querem que Deus mude o coração de seus agressores e os salve. A amargura e as feridas emocionais de seus corações não lhes permitirão perdoar e deixar o tempo suficiente passar para conceberem semelhante Deus. Procuram um Deus suficientemente poderoso para os proteger de abusos, mas não tão amoroso a ponto de operar na vida daqueles que lhes causaram dano, para os converter de seu pecado, e para os salvar.

A maioria das pessoas, no entanto, simplesmente não sabe que as Escrituras apresentam esse Deus porque elas foram advertidas contra Ele por aqueles que expõem pontos de vista alternativos. Neste livro, conforme olhemos para isso mais atentamente, apontarei para sua consideração Escrituras que talvez você não tenha notado no passado.